João Pimenta

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A seleção é do povo

O futebol é uma paixão nacional

Esquerda e direita se aliam na política, sem grandes resultados, de indispor o povo com a Seleção

O UOL publicou uma matéria sobre as atividades do PCO em relação à Copa do Mundo. O partido, durante os jogos da Seleção Brasileira, abriu as portas do seu novo Centro Cultural Benjamin Péret (CCBP) no centro de São Paulo e reuniu, juntando os cinco jogos do Brasil, mais de mil pessoas. A reportagem é quase um elogio ao partido, o que é interessante vindo de onde veio. No entanto, ao final da matéria, o jornalista deixa a entender que apenas na atividade do partido as pessoas sofreram pela derrota brasileira diante da seleção croata.“A derrota do Brasil nos pênaltis deixa as particularidades do PCO ainda mais evidentes. Diferente do que acontece nos bares ao redor no centro de São Paulo, há uma rápida debandada do público ao final da partida. Entre os que ficam, tem gente chorando, se abraçando ou com cara de quem não vê sentido em seguir festejando”, diz a matéria.
“Uma garota sentada em uma cadeira na rua parece ser a única pessoa fora da sede do PCO que chorou ou está muito próxima de fazê-lo. Impossível dizer, porém, se o motivo é a derrota do Brasil ou se ela está sob efeito de algo além de sentimentos futebolísticos”, continua.
A matéria, no entanto, destoa das diversas imagens que foram divulgadas nas redes sociais após a derrota brasileira em mais uma copa do mundo. Crianças, adolescentes e adultos chorando a derrota da Seleção na Copa que, em teoria — pelo nível do nosso elenco e a fraqueza das outros times —, seria a mais fácil das últimas edições. Ninguém tinha um elenco como o do brasileiro, repleto de craques. E, por isso, mais do que sofrimento, a população brasileira entrou em choque.
Todavia, é provável que o sentimento não tenha sido tão passional em relação a outras copas. Afinal, durante todo o torneio de futebol, a imprensa brasileira (vendida aos interesses estrangeiros) fez questão de atacar nossa Seleção. E pior: fez questão de naturalizar as derrotas dos brasileiros nas copas, em que chegam sempre como favoritos.
O Brasil é perseguido nas Copas do Mundo. Não é do interesse dos grandes capitalistas fazer a seleção de um país oprimido ganhar a competição. Não dá lucros, não estimula uma fatia tão importante do mercado mundial como ocorre quando ganham os grandes países imperialistas (França, Alemanha, Itália, Inglaterra). Por isso, o Brasil precisa enfrentar os “erros” constantes de arbitragem, que é conivente, ainda, com as agressões que os jogadores brasileiros sofrem constantemente em campo — mais do que qualquer outra Seleção.
A imprensa esportiva brasileira, que é parte deste processo de interdição do Brasil a ganhar a Copa do Mundo, realizando uma intensa campanha de desestabilização da Seleção, não aponta esses problemas. E, nesse sentido, naturaliza algo que não é natural. Como se a Seleção Brasileira perdesse no jogo, no onze contra onze, na bola, e não pelas artimanhas dos grandes monopólios do esporte que preferem a vitória, por exemplo, de uma França, e, por isso, precisa sabotar a melhor seleção do mundo.
Assim, faz sentido o lado emocional ter transparecido menos nesta copa — apesar de não ser a indiferença geral narrada pelo UOL. Mas não é o povo que parou de torcer para a Seleção, e sim que a campanha tem reprimido o sentimento geral da população: que está com a conquista do hexacampeonato entalado na garganta.
Ao mesmo tempo, a professora universitária Márcia Tiburi, em coluna no Brasil 247 (A derrota, 11/12/22), mostra sua total ignorância em relação ao futebol. Mas, também, o que esperar de uma “filósofa” e “psicanalista” do alto de sua cadeira acadêmica, cheia de prestígio na burocracia universitária “bem pensante”?
Desprezando toda a história do futebol brasileira — uma conquista da classe operária, negra, do país —, Tiburi apresenta que, “do ponto de vista do jogo de poder e dinheiro ao qual o futebol está reduzido, perder é perder poder e dinheiro”. E ainda diz que a derrota brasileira foi boa, pois “o povo que vibra com o espetáculo perdeu algo que é preciso perder: a ilusão. Perder a ilusão é algo tão maravilhoso que se assemelha a uma vitória”. “É sempre bom acordar os ingênuos que tratam o futebol como se ele fosse mais do que uma mercadoria”, continua.
Márcia Tiburi, desta forma, mostra seu desprezo ao povo brasileiro. Ó, Deus, poupai-nos, meros cidadãos, por nossa “ingenuidade” por amar, de forma passional, o esporte mais popular do mundo!
Na verdade, o que a “filósofa” demonstra é sua própria ignorância. O processo que levou o futebol a ser uma paixão nacional — especialmente no Brasil — é longo e tem a ver com a revolução que o futebol brasileiro promoveu no futebol. Transformamos um esporte estático e grosso da elite inglesa e européia em uma das maiores manifestações culturais da classe operária e negra brasileira. São os Leônidas da Silva, Domingos da Guia, Garrinchas, Pelés, Zizinhos, Niltons Santos e Didis que elevaram o futebol ao nível que ele assumiu nos tempos atuais. É um motivo de orgulho — e sofrimento — para o povo brasileiro.
Se a direita vendida, pró-imperialista e golpista ataca a Seleção Brasileira por motivos econômicos, a classe média “bem pensante” e esquerdista faz coro: pintando os argumentos com problemas morais e supostamente de esquerda.
É verdade, sim, que muitos jogadores são bolsonaristas e direitistas. Mas isso não importa: o papel deles é jogar futebol e estas posições políticas são consequência da pobreza cultural a que a burguesia submete a população brasileira. É verdade, também, que o futebol se transformou numa grande mercadoria — no maior processo mundial de especulação em relação aos esportes. E é exatamente isso que tem prejudicado o futebol brasileiro, que perde seus grandes jogadores para clubes europeus e que tem sua Seleção interditada de ganhar a Copa do Mundo.
A política da esquerda, ao contrário, deveria ser lutar contra esse processo que deturpa o verdadeiro futebol; que expulsa o povo do esporte; que reprime as torcidas; que transforma os estádios em arenas para gente rica; e, acima de tudo, defender o futebol nacional como um patrimônio do País, que deveria ser tratado como política de Estado para enfrentar os grandes monopólios capitalistas.

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