Caetano Albuquerque

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O papel da vanguarda operária na candidatura do Lula

Em 2014, o PCO organizou uma palestra no aniversário de 70 anos do golpe de 1954 contra Getúlio Vargas. No vídeo, que está presente no acervo da COTV, o companheiro Rui Costa Pimenta apresenta inicialmente a história política dos acontecimentos que levaram a derrubada do governo nacionalista, mas logo que se inciam as perguntas o assunto muda rapidamente para a atualidade. Os paralelos do golpismo de 1954 e 2014 já estão claros, a campanha contra o PT se assemelha de muitas maneiras com a campanha golpista contra Vargas, e da mesma forma o comportamento da esquerda nacional. A presença ou a ausência de uma vanguarda consciente da classe operária é o que diferencia um 1917 de um 1954.

O segundo governo Vargas, que durou de 1951 até 1954, foi um dos momentos de auge do nacionalismo burguês no Brasil. As grandes mobilizações da classe operária permitiram que o país obtivesse grandes conquistas sob o imperialismo: a criação da Petrobrás e a estatização completa do petróleo, a criação do BNDES, o início da criação da Eletrobrás, a não intervenção na Guerra da Coreia. O imperialismo não estava disposto a aceitar o desenvolvimento do Brasil que, levado às últimas consequências, o transformaria em um país propriamente capitalista o impedindo de ser dominado, como havia feito o Japão décadas antes. Por isso foi organizado um golpe contra o governo nacionalista.

A campanha golpista na verdade se iniciou antes mesmo das eleições. Um dos principais capachos dos EUA, Carlos Lacerda, escreveu a famosa frase em seu jornal de grande circulação: “O Sr. Getúlio Vargas, senador, não deve ser candidato à presidência. Candidato, não deve ser eleito. Eleito, não deve tomar posse. Empossado, devemos recorrer à revolução para impedi-lo de governar.”. Esta célebre frase do golpismo nacional se encaixa perfeitamente ao atual caso do ex-presidente Lula. Aqui vale lembrar outro paralelo com a situação atual.

Em 1945 já havia um movimento em defesa de Getúlio Vargas, neste momento ele realizava uma transição do regime ditatorial do Estado Novo para um regime democrático, mas ainda não possuía a popularidade que ganharia durante seu último governo. O imperialismo organizou um golpe para derrubá-lo e garantir que ele não voltasse ao governo por meio de eleições e impôs o ministro da guerra Marechal Dutra como presidente. Em 1950 a situação então era esta, 5 anos antes um golpe de Estado organizado pelo imperialismo havia derrubado o governo, agora o candidato mais popular e nacionalista tentava concorrer as eleições com amplas chances de vencer e já com uma enorme campanha golpista contra.

As semelhanças com a atualidade são imensas, em 2016 o golpe organizado pelo imperialismo derrubou a presidenta Dilma, em 2018 a máxima de Lacerda foi utilizada, o Sr Lula não deve ser candidato, e o golpe continuou com Bolsonaro no governo, agora em 2022 um novo golpe se prepara; A burguesia tem um plano para cada um dos estágios, até mesmo para o caso de Lula ser eleito, a tal “revolução para impedi-lo de governar” já possui um possível nome, Geraldo Alckmin, é possível até mesmo o golpe de acabar com o presidencialismo para retirar o poder de Lula, assim como fizeram com Jango logo que ele assumiu a presidência. 

Mas então, ante a todos esses acontecimentos, qual o papel da vanguarda operária? Em 1950 o maior partido de esquerda do país (contando que o PTB de Vargas era, na verdade, um partido nacionalista) era o Partido Comunista, o PCB na realidade era um dos maiores PCs do mundo. A sua política ficou marcada por errar em todas as ocasiões, em 1950 eles se colocaram frontalmente contra Vargas adentrando na campanha golpista, como fizeram o PSOL e o PSTU em 2016 e 2018. Já nos governos JK e Jango eles ficaram completamente a reboque da política do PTB e não radicalizaram a luta das massas, chegando ao ponto de nem perceber a ameaça de golpe militar em 1964. O PCB do passado, assim como o do presente, é um exemplo claro da política a não ser adotada.

A política da vanguarda da classe operária, ou seja, a política trotskista na luta dos países atrasados contra o imperialismo é muito clara. É preciso sempre se colocar ao lado das forças que lutam contra o imperialismo, sejam elas religiosas como no caso do Talibã no Afeganistão, sejam elas militares como no caso de Chavez na Venezuela, ou (melhor ainda) sejam elas operárias como no caso de Lula no Brasil. Só este motivo já seria o suficiente para um partido operário defender a candidatura de Lula, mas os motivos vão além disso.

O ex-presidente Lula é a maior liderança da classe operária nacional, ele está diretamente ligado a dezenas de milhões de trabalhadores e suas organizações. Ao se defender Lula presidente não estamos iludindo as massas como uma falsa saída, como dizem setores da esquerda pequena burguesa, isso porque a esmagadora maioria dos trabalhadores já consideram que essa é a saída da atual situação de calamidade gerada pelo golpe de 2016. E de fato ela é a saída, o único candidato capaz de derrotar a direita nas eleições é o próprio Lula, contudo o que precisa ficar claro para as amplas massas é que essa vitória não está garantida, ela só é possível por meio da mobilização popular.

A defesa da política de Lula presidente permite que o partido operário revolucionário no atual momento de crise atue dentro desse movimento que compõe a maioria da classe trabalhadora e assim desenvolva a sua consciência de classe. Que faça os trabalhadores compreenderem que é preciso se organizar e é preciso lutar não só por Lula presidente mas por um governo dos trabalhadores, sem a participação de nenhum canalha golpista como Geraldo Alckmin, mas que tenha a ampla participação dos sindicatos, dos movimentos sociais, do movimento estudantil, etc. 

Voltando ao caso de Getúlio Vargas, as eleições de 1950 apenas foram vencidas devido à forte mobilização, que cresceu ainda mais após a vitória eleitoral, foi ela que realizou todas as grandes conquistas do governo. Vargas por sua vez não convocou as massas a se mobilizarem contra o golpe, ao invés disso suicidou-se no dia 24 de agosto de 1954. Muitos cometem o erro de afirmar que foi a ação pessoal de Vargas que impediu o sucesso completo do golpe, estes omitem o fator principal que ocorreu no dia seguinte, uma gigantesca insurreição popular nacional que chegou a invadir e destruir prédios da imprensa golpista e embaixadas dos EUA. 

A mobilização popular é a única que pode garantir a candidatura de Lula, a única que pode garantir a sua eleição, a única que pode garantir a sua posse, a única que pode garantir o seu governo e a única que pode de fato torná-lo um governo dos trabalhadores. E apenas um partido operário consciente pode organizar essa mobilização.

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