As lutas da população negra brasileira sempre foram marcadas por uma evolução tortuosa e sem a coordenação de uma política clara. Foi assim com os movimentos pela abolição da escravatura e posteriormente nas diversas reivindicações desse enorme contingente populacional durante os períodos da República Velha, Estado Novo, ditadura militar, e nos tempos recentes do que se denominou “período de redemocratização”.
Neste momento, no entanto, o que se vê, no que diz respeito às lutas do povo negro, é um fenômeno novo, marcado pela infiltração de alas direitistas da política do país nas pautas do próprio movimento de defesa dos dirreitos e das reivindicações dos negros. Com a escalada vertiginosa da crise capitalista mundial, atingindo em cheio os interesses da burguesia e do do grande capital imperialista, o que temos visto é o surgimento de pseudo-representantes da população negra em um namoro acalentado com setores abertamente direitistas, setores que sempre atuaram e atuam com o objetivo de atacar as condições de vida da população, rebaixar os já aviltados salários, aumentar exponencialmente o desemprego, promover a inflação dos alimentos, fazendo subir a níveis estratosféricos o preço dos gêneros de primeira necessidades essenciais à sobrevivência da população pobre e explorada do País.
Ocorre que para a população negra, composta majoritariamente por trabalhadores do campo e dos segmentos urbanos, é uma exigência que os setores da esquerda e das organizações representativas da luta do povo preto atuem com clareza nesse ponto para que a infiltração direitista seja varrida dessa luta. No entanto, o que se vê é justamente o oposto. Partidos políticos que se reivindicam como de esquerda têm se abraçado com a direita nacional ao primeiro aceno que eles fazem.
Fazendo um recorte histórico a partir dos diferentes governos que estiveram à frente da política nacional, é fácil perceber que após a abolição da escravatura o setor político que mais agride a população negra brasileira vem sendo, desde sempre, o setor mais vinculado aos interesses do capital internacional, ou seja, ao imperialismo.
Nessa seara se destaca o senhor Fernando Henrique Cardoso (FHC), um dos próceres do PSDB e que durante oito anos esteve à frente do governo federal. A gestão deste governo promoveu uma série de privatizações, das quais se incluem empresas extremamente valiosas para a economia nacional, como a Vale do Rio Doce e a Telebras, entregues para empresas imperialistas dos EUA e Europa. Como resultado dessa política ficou o saldo trágico e catastrófico que gerou mais de 50 milhões de almas passando fome no país, além do alto índice de desemprego, desindustrialização nacional e outras hecatombes socialmente devastadoras para todo o povo brasileiro.
É fácil constatar que a população negra brasileira foi levada ao estado de miséria e sofrimento em que se encontra por essa política, pois sua posição na pirâmide social está situada na base, juntamente com outros setores sociais esmagados pela mesma política de ataques.
Desta forma, este mesmo setor político que jogou a população negra na situação de penúria tem tentado, sistematicamente, se infiltrar nos movimentos de esquerda e da luta do negro. Seja por qual motivo for, por oportunismo, cinismo ou mesmo por contar com a mão estendida da esquerda, os tucanos do PSDB passaram a ensaiar um discurso e uma atuação no confuso movimento identitário.
O PSDB criou, em 2013, o TUCAFRO, grupo destinado a discutir questões da população negra n o interior do ninho tucano Trata-se, mais uma vez, de iniciativas da direta nacional na buscar de um espaço para levar adiante a já conhecida demagogia com o povo negro, assim como fazem com outros setores (LGBT’s, juventude, mulheres, etc).
Recentemente, com o ascenso dos movimentos de lutas da população negra, principalmente em decorrência das ações da violência policial, como as manifestações ocorridas em Minneapolis (EUA), a demagogia identitária deste partido (PSDB) tem se intensificado, tendo em vista que também respinga no Brasil essa tensão social que se propaga no mundo.
E é aqui que vemos a política identitária utilizada por este partido, assim como outros de direita para se infiltrar no movimento negro brasileiro. Somente no último período, foram realizadas diversas ações, tendo como fim apenas uma política publicitária com pessoas negras.
Também devemos mencionar que o PSDB sempre foi um dos maiores organizadores e controladores do aparato de repressão da população negra. A polícia militar, juntamente com suas variantes é, desde sempre, uma instituição que atua para massacrar a população trabalhadora e negra no Brasil, superando a cada ano a quantidade de assassinatos dessa população.
É preciso que seja entendido de uma vez por todas que este grupo político não tem nada de positivo para oferecer à população negra. Quem se vincula a este partido, por mais confuso que esteja e independentemente de seu fenótipo, não é aliado das lutas do povo negro, do povo trabalhador.